A Peste, foi interpretado por vários críticos como uma
alegoria ao nazismo e, por extensão, ao regime totalitário. Assim a obra pode
ler lida pela ótica da resistência política e/ou da filosofia existencial.
A leitura permite uma reflexão da vida, da
morte, da solidariedade, do medo, da solidão e da dor… a história se passa em Oran,
uma pequena cidade da Argélia, onde os habitantes vivem para o trabalho e para
o acúmulo de riquezas. De modo geral eles seguem meticulosamente a rotina,
inclusive nas questões do coração. “Em Oran, como no resto do mundo, por falta
de tempo ou reflexão, somos obrigados a amar sem saber.”
A normalidade cai por terra quando ratos
agonizam por toda a cidade. Logo depois, a morte alcança também os moradores.
No início, há um estranhamento com o fenômeno cuja causa ou explicação é
desconhecida. Mas com o avanço da doença, o que era uma simples preocupação
torna-se motivo de terror. Ninguém está livre desse inimigo reconhecido como a
peste bubônica.
Para Camus, o sentimento de revolta
estreita os laços de fraternidade: “A solidariedade dos homens se fundamenta
no movimento de revolta e esta, por sua vez, só encontra justificação nessa
cumplicidade. (...) Para existir, o homem deve revoltar-se, mas sua revolta
deve respeitar o limite que ela descobre em si própria e no qual os homens, ao
se unirem, começam a de fato existir.”
O protagonista da obra é o médico Bernard Rieux, um
homem preocupado com o próximo e que não mede esforços para conter a doença,
mesmo sabendo das limitações. Ele privilegia o bem comum e a coletividade, a
ponto de suportar calado o drama pessoal de se manter à distância da esposa,
que, enferma – não pela peste –, é tratada em outra cidade.
À volta de Rieux forma-se um pequeno grupo
de colaboradores, como Rambert, Tarrou e Grand, homens unidos pela peste e que
aprenderam a compartilhar angústias, desejos e temores. É em torno de
personagens como esses, que o médico conduz sua crônica, como ele mesmo define o
relato da doença.