Ama e faz o que quiseres; seja
que te cales, cala-te por amor; seja que fales, fala por amor; seja que tu
corrijas, corrige por amor; seja que tu perdoes, perdoa por amor ~ Santo
Agostinho
Cresci em uma família cristã,
com raízes fincadas em Canindé, cidade do Ceará, cujo Padroeiro é São
Francisco. Ainda criança participei das festas religiosas da cidade: da
Romaria, uma das mais antigas do Estado (com mais de 2 milhões de romeiros), da
procissão dia 4 de outubro, e dos espetáculos teatrais retratando a vida de São
Francisco. Lembro claramente de acordar ouvindo o sino da Basílica
anunciando a missa e de passar o dia embalada pelo som do relógio da cidade
recordando as horas. Tempos felizes!
A casa de minha família ficava
repleta de parentes na época das festas religiosas. Mesa grande, comida farta
feita no fogão à lenha, portanto mais saborosa. Minha tia Maria cozinhava com
gosto e tinha uma bondade que atraia as pessoas.
Na hora de dormir, as redes se
espalhavam pela casa e a conversa suave e descontraída era ouvida como música.
Ocasionalmente contávamos com a presença dos não desejados visitantes morcegos.
Normalmente eles ficavam mais “felizes” quando as luzes da cidade eram apagadas
22 horas pelo Sr. Jaime (meu futuro sogro). Eu ainda criança imaginava mil
histórias com o “bicho papão” e não gostava do escuro, o que fazia do meu futuro
sogro um “apagador de luz”, ou seja sem alguém que ao meu entender precisava
esquecer essa profissão.
Desse tempo de criança, guardei
na memória muita alegria da vida familiar, e foi essa memória que levei para
Fortaleza, quando mudei de Canindé para estudar. Aguardava então com ansiedade
as férias e as festividades religiosas para voltar a minha terra.
Em uma das férias, conheci o
Guedes, meu futuro esposo. Os pais dele mandaram um saco de pipocas para nossa
casa e o Guedes foi o portador. Chegou em uma bicicleta muito distinto na sua
juventude e eu com 14 anos fiquei impressionada com a sua forma bondosa de
tratar. Nasceu uma paquera, um namoro, ao que minha mãe tratou logo de
dar o contra, por receio que eu me descuidasse dos estudos.
Ao final das férias, voltei para
a cidade de Fortaleza. Lá recebi uma carta datilografada do Guedes
(datilografia era a digitação da época). “Estimada Terezinha, espero te rever,
na Festa de São Francisco… Não fui ver sua saída, porque estava com
visitas em casa, mas espero notícias suas, pela D. Maria, sua tia”…
Ah as coisas da juventude!
Quando voltei à Canindé, Guedes havia ido embora da cidade… Rio de Janeiro, São
Paulo, Natal… Ficamos 30 anos sem nos ver!
Guardei sua cartinha em meio a
tantas outras. Namorei outra pessoa, ficamos noivos, e na véspera do casamento,
uma jovem apareceu em minha casa com duas crianças… nem preciso entrar em
detalhe. União desfeita, embora ele dissesse me amar, a exclusão desse fato,
abalou minha confiança nele. Sofri, mas também fiquei aliviada de não ter
casado antes de saber de tal fato, porque no casamento é bom ter confiança.
Visitando a mãe do Guedes, com
minha tia Sinhá, reencontrei o Guedes, depois de 30 anos. Foi como se os anos
não tivessem passado, estávamos os dois solteiros e com a responsabilidade de
cuidarmos de nossas mães doentes. Retomamos a nossa conversa sem nenhuma dificuldade
de comunicação e decidimos continuar o namoro. Digo continuar porque nunca
terminamos de fato.
Minha mãe dessa vez aprovou o
namoro, mas a mãe do Guedes não. Antes para não atrapalhar nosso futuro, agora
para não modificá-lo.
Decidimos casar assim mesmo,
conscientes de que nossa maturidade seria suficiente para acolher as
tempestades e nossa vida de oração nos daria o animo necessário. Dia 24 de
março de 2006 casamos. A mãe do Guedes não compareceu e deixou claro que me
desaprovava.
Em 2009, ela adoeceu e a
acolhemos na nossa casa, cuidamos, levamos a médicos, demos carinho e ela foi
percebendo que eu e Guedes nos amávamos e a amávamos e não tinha porque ficar
contra a nossa união.
Hoje somos todos parte da mesma
família. Cuidamos uns dos outros, acolhemos a quem nos procura e vivemos com a
certeza de que Deus não demora ele capricha.
~ Teresa
Barros dos Santos ~